segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Crónica Social - Ano novo, vida velha





No final de ano é costume para muitas pessoas fazer planos para mudar ou introduzir algo de novo na vida.
Diz-me a experiência que à medida que Janeiro avança é frequente (para muitos dos mortais incluindo eu própria) ficar enrolado no ram-ram das nossas boas rotinas e lá se vão os planos.
Não que as rotinas tenham algo de mal. Aliás, aprendi a valorizá-las pela energia que nos poupam e pela segurança que dão. O problema é a dose.

Quero eu dizer (e falando de mim, uma vez mais) que se não introduzir nada de novo fico com um sentimento de estagnação. Com receio de acostumar o olhar e o pensamento. E isso não é bom para a minha alma inquieta.
Com isto não quero dizer que seja preciso andar sempre a inventar a roda. Cada um/a saberá o que lhe faz sentido mudar, fazer de outro modo, fazer de novo, arriscar.

Acreditando que ninguém muda ninguém e que apenas nos podemos mudar a nós próprios não deixa de ser paradoxal que os únicos problemas que parecem simples de resolver, sejam os dos outros.

- Faz isto e aquilo!
- Se eu fosse a ti, fazia assim …

Tenho para mim que mudar é uma das coisas mais difíceis a que nos podemos propor. Ou que alguém nos pode propor. Ou que nós propomos a alguém.
Falemos das pequenas ou das grandes mudanças. E das respectivas resistências. Ou bloqueios.

Sílvia não pode ouvir a palavra mudança. Bloqueia, se a conversa for sobre este tema.
Fica com a cabeça confusa e só quer falar de acontecimentos.
- Porque é que se tem de falar sobre mudanças??! As coisas acontecem e pronto, já está.

Também existem pessoas que pedem mudanças como quem faz pedidos ao Pai Natal, como graças a serem concedidas em troca de merecimento e boas ações.
Outras pessoas vão arranjando argumentos para permanecerem mais ou menos na mesma. Porque estão bem ou não estando, não querem ou não sabem mudar.

Provavelmente menos pessoas se propõem a um caminho de desenvolvimento pessoal que implique reflexão e mudança – Mutatis mutandis – mudar o que tiver que ser mudado.
Mesmo quando se reconhece a necessidade de mudar, ou quando se está a sofrer emocionalmente, mudar significa arriscar, sair da zona de conforto, mergulhar em zona não conhecida.

Parece-me que as mudanças que colocamos em marcha para alterar algo de significativo em nós são muito mais raras. E difíceis. E ambivalentes. E sujeitas a avanços e recuos.
Claro que existem pessoas que falam das suas mudanças com determinação

- Decidi e nunca mais peguei num cigarro. Já lá vão 10 anos.
- Tinha uma vida muito sedentária e isso não me fazia bem à saúde. O médico recomendou-me exercício físico e desde esse dia nunca falhei. Faça chuva ou faça sol.

Creio que as nossas mudanças (de hábitos, de pensamento, de comportamento…) são percursos. Caminhos mais ou menos longos. Mais ou menos determinados.
Sem querer entrar por tipologias identifico três espécies de mudanças na minha experiência de vida com exigências diferentes: as adaptativas, as reativas e as de transformação.
Das primeiras, todos temos experiência mais ou menos frequente. Sobretudo daquelas mudanças que nos permitem mudar apenas o suficiente para que possa permanecer tudo igual. Têm a sua importância mas na escala de valor de cada pessoa não são aquelas que recordamos como marcadoras de uma nova etapa.

As mudanças por reação podem ser sentidas como negativas ou positivas e as circunstâncias podem ter dimensões externas e internas. Decidir ir viver junto ou separar-se, mudar de casa e de território de vida ou de trabalho, o nascimento de um filho, uma situação de desemprego, um luto… são exemplos de acontecimentos que nos convocam para mudar.
Podemos fazê-lo ou não o fazer.

Quando faço o exercício de pensar nas mudanças significativas que operei na minha vida encontro poucas. E essas são as mudanças de transformação. De evolução na situação que vivi mas sobretudo de mudança em mim, na maneira como pensava, nos óculos que usava para ler o mundo. Mudanças que acontecem no intervalo possível entre a mobilização das forças e a possibilidade de risco que admitimos. Com o cuidado de não chegar ao pânico, que nos traz de volta ao centro da nossa zona de conforto.

Mudanças que são feitas connosco e contra nós. E com os outros que nos são importantes.
A verdade é que preciso dos outros para mudar. Aos outros vou buscar energia, reforço, a possibilidade de funcionar em circuito aberto, a entrada de perspectivas divergentes da minha, o aconchego.

Para além das mudanças que me aconteceram e as que fiz por acontecer, as que quis muito e aquelas que acabei por aceitar, também consigo perceber o que não tive coragem de mudar. Mesmo querendo. Ou achando que devia mudar e não mudei.
Vivo com isso.
Por vezes angustiada e outras vezes, não. Procrastino.
Sou inquieta e nem sempre mudo o que precisaria mudar.
Mas tento não alimentar ressentimentos com os outros e comigo própria.
Não tenho o desejo de voltar atrás no tempo para refazer ou redesenhar a vida.
Foi como foi, como podia ter sido, com coisas que correram bem e outras nem por isso.
Longe da perfeição. Tentando agradecer pelo que a vida e eu própria me permiti.

Mas na verdade, não sei nada sobre Mudança.
E suspeito cada vez mais que o peso do acaso nas nossas vidas faz-se sentir… 

Isabel Passarinho

Sem comentários:

Enviar um comentário