quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Rogue One

Rogue One é o oitavo filme do universo Star Wars mas é o primeiro do seu género. Ao contrário dos restantes (episódios I – VII) este filme não retrata parte do enredo principal (focado na família Skywalker) mas sim uma side story encaixada temporalmente entre o Episódio III: A vingança dos Sith (2005) e o Episódio IV: Uma nova esperança (1977).

Esta história foca-se no processo que levou a Aliança Rebelde à descoberta de uma falha estrutural na Estrela da Morte, facto que permitiu a sua destruição no Episódio IV num momento épico que serviu de mote à restante saga. Uma nova esperança foi isso, a destruição da mais poderosa arma, capaz de destruir planetas, de um pérfido império que ameaçava tomar a galáxia através do terror e da força. Mas uma nova esperança não seria possível se alguém não fosse capaz de descobrir os segredos da Estrela da Morte e fazê-los chegar aos rebeldes.


E é neste ponto que nos é apresentada a família Erso, Galen um cientista de grande valor para o Império Galáctico que, no início desta aventura vive em retiro no planeta Lam’hu com a sua mulher Lyra e a sua filha Jyn, numa existência aparentemente simples e idílica. Tudo isso acaba quando o Império descobre e visita Galen para o forçar a construir a Estrela da Morte.

Fig.1: Jyn Erso (ao centro) e os seus gunas
Jyn perdeu pai e mãe nesse instante e ficou entregue aos cuidados do amigo dos pais e comandante rebelde Saw Guerrera, mas algo não correu bem e quando voltamos a encontrar a jovem Jyn ela é já uma mulher feita e prisioneira das forças imperiais. Daí em diante assistimos às suas aventuras e desventuras, à sua colaboração com a Aliança Rebelde e ao contacto com a vida e obra do seu pai, até ao inevitável reencontro, sempre com a ameaça negra do Império a pairar sobre si, e o Império tem sombras negras ao seu serviço…

Rogue One faz um excelente serviço a explorar o riquíssimo universo Star Wars, introduzindo vários planetas, espécies alienígenas, designs de naves e toda uma panóplia de referências arquitectónicas e culturais que se tornaram icónicas em Star Wars e que mergulham o espectador numa experiência deliciosa que mistura a nostalgia da trilogia original com a tecnologia dos dias de hoje.

O enredo denso e bem escrito dá uma profundidade certa às personagens e ao seu meio envolvente, cativando quem vê e dando-lhes relevância, contexto e conteúdo, algo que em algumas situações falhou no recente Episódio VII e que influencia sobremaneira a nossa vivência do filme. O equilíbrio humor-drama está também muito bem conseguido. Num filme com uma aura mais negra do que a saga nos habituou, os rasgos secos e directos do droide K-2SO servem de bálsamo a uma realidade desolada por guerra e morte e arrancam boas gargalhadas.

Fig. 2: Backstreet Boys

Destaco ainda Chirrut Îmwe, um monge invisual do templo de Jedha que nos traz essa aura mística que os Jedis deixaram mesmo após o seu desaparecimento, através apenas da sua proficiência marcial com um bastão e uma fé inabalável na Força.

Com este e outros companheiros improváveis, o percurso de Jyn Erso dá-nos uma perspectiva diferente de toda a saga que precede este filme: desta vez a luta da Aliança Rebelde contra o Império Galáctico não nos é mostrada pelos olhos de poderosos cavaleiros Jedi ou os seus contrapartes negros, os Sith, grandes generais, senadores ou imperadores, mas através de gente comum que se junta com os poucos recursos que tem, com grande sacrifício para lutar pelo bem comum, pelo que acreditam, contra a tirania do Império.

Esse é a meu ver o maior feito de Rogue One.

Fig. 3: Chirrut Îmwe segundos antes de desgraçar a vida a estes traquinas

Não sendo esse o foco desta análise, a comparação com o Episódio VII é inevitável por serem os dois representantes desta nova geração de filmes Star Wars, e quando postos lado a lado, Rogue One destaca-se positivamente devido ao melhor enredo (não repetição de histórias prévias), personagens mais densos, maior variedade de referências e elementos cénicos e culturais que fazem de Star Wars, Star Wars, e que tudo junto torna a experiência mais coesa, coerente e capaz de, não só entreter mas deliciar.

Em jeito de conclusão quero deixar nota positiva para o realizador Gareth Edwards que, numa era em que o cinema sofre da febre do “tem que ser trilogia nem que seja à lei da marreta” conseguiu fazer um filme de excelente qualidade, com princípio, meio e fim, que se encerra em si próprio e não perde qualquer valor por isso, pelo contrário. Consegue explorar um novo tom, muito mais negro e cru sem perder o tom fantástico da saga levando quem vê o filme a sentir que está simultaneamente a ver Star Wars mas algo que nunca viu antes em Star Wars, o que, aqui entre nós, cativa.

Um filme obrigatório para os fãs da saga!

Fig. 4: Lord Voldemort

Classificação:





Nuno Soares 

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