quarta-feira, 30 de março de 2016

Desafio de Aniversário: Crónica Social - Entre a linha e a Parede

Em Braga observo rabiscos nas paredes sujas dos prédios. Esses rabiscos efémeros, ou duradouros que pertencem às cidades, à nossa história, à nossa cultura, à criança que declarou o amor pela paixão que tinha, aos amigos que brincaram com mensagens escritas nos muros da escola, à rebelia de um protesto político, à rebeldia de uma “crew”.
Os “rabiscos” estão incluídos na nossa liberdade de expressão, a qual é protegida pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948.

Foto de um original do Banksy

O graffiti surge na pré-história sob a forma de arte rupestre. Este tipo de expressão humana tomava várias formas, inscrições, desenhos a sangue em rochas, muros e paredes.
Gravura rupestre em Vila Nova de Foz CôaPortugal

Graffiti (do italiano graffiti, plural de graffito)é o nome dado às inscrições feitas nas paredes do Império Romano. É uma inscrição caligrafada ou um desenho pintado ou gravado sobre um suporte que não é normalmente previsto para esta finalidade. Este tipo de expressão pode ser usada com vários propósitos e objectivos.
O graffiti surge, na década de 70, nos bairros de Nova Iorque. As formas mais antigas são os tag´s que já eram utilizados nos anos 30, pelos gangues americanos, para limitação de território. Esta "moda" ressurge entre os jovens provenientes dos guetos negros e os bairros pobres dos EUA, acompanhando movimentos culturais que florescem das ruas, os quais incluem o hip-hop e o rap, na esfera musical, e o breakdance na dança. O fenómeno atingiu a Europa nos anos 80.
Foto de um tag famoso de Tracy 168

Foto de um original de Basquiat

Em Portugal, o graffiti surgiu no final da década de 80 continuando a manifestar-se até hoje.

Foto de um original de Homem Mudo

Foto de um original de João com Z

O graffiti faz parte da legislação portuguesa:  http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=1972&tabela=leis. No entanto estas leis não andam a ajudar o planeamento urbano, como confirma esta notícia do diário de notícias: http://www.dn.pt/portugal/interior/lei-incapaz-de-combater-a-realizacao-ilegal-de-graffiti-4136792.html. As câmaras municipais são até hoje, incapazes de lidarem com a linha ténue que diferencia esta arte de rua, com o ato de pichação que é o ato de escrever ou rabiscar sobre muros, fachadas de edifícios, asfalto de ruas, ou monumentos, usando tinta em spray aerossol, dificilmente removível, stencil, ou mesmo rolo de tinta. Isto traz consequências negativas relativamente à liberdade de expressão. Por exemplo, o graffiti de Nomen criado em Março de 2013 censurado pela câmara municipal de Oeiras.

Foto de um original do Nomen


Fenómeno de pichação na parede do muro da Igreja de S.Vítor, Braga.

Como qualquer tipo de arte, o graffiti possui vários estilos. Eis alguns exemplos:

Stencil por Mr. Brainwash


Rubikcubism por Invader


Graffiti 3D por Eduardo Relero 

                Um marco importante na história da arte, para o graffiti, foi a nomeação de Banksy para Oscar de melhor documentário com o filme “Exit Through The Gift Shop”.
                 À medida que fui escrevendo esta crónica mudei radicalmente a minha posição sobre o graffiti, antes de a fazer tomava uma posição de rejeição relativamente aos tags, ou à pichação. Contudo, agora que a termino, considero o tag e a pichação parte da arte do graffiti. Os “rabiscos” tornaram-se linhas e as linhas tornaram-se numa arte com vários estilos. São o reflexo da mais pura simplicidade de uma pessoa, ou artista. Tal como outras artes, o graffiti está repleto de emoções humanas que em forma de tinta respiram com as paredes das nossas cidades, seja ódio, protesto, amor, ou amizade, todas elas importantes para a nossa liberdade de expressão.
As câmaras municipais e os cidadãos, têm assim nas mãos a responsabilidade de intervir quanto ao planeamento urbanístico da sua cidade, só assim esta arte urbana se expressará na sua melhor forma, sem limites.
               

 Paulo D. de Sousa

2 comentários:

  1. parabéns ao Paulo. Gostei. Em especial por ele ter mudado de opinião à medida que faz o artigo. É mesmo assim.

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  2. Obrigado anónimo, foi muito divertida a experiência.

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