quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Legislativas 2015 - A falácia da falta de escolha

Bom dia!

Hoje senti a necessidade de partilhar alguns pensamentos sobre uma das muitas questões polémicas que envolvem o presente (e passados) período eleitoral: a falácia da falta de escolha.

A falácia da falta de escolha é uma história, uma fábula, ou um conjunto de argumentos, dependendo do ponto de vista que, em altura de campanha se espalha como a varíola, com o intuito de beneficiar aqueles que há 41 anos monopolizam a governação de Portugal (PS/PSD), utilizando para isto o mais triste dos argumentos políticos: “O partido X é uma desgraça no que faz, mas os outros não são melhores”.

Ao contrário da varíola, que existe mesmo e parece que é chata, a falácia da falta de escolha é, independentemente da eloquência, tom e volume do orador, não mais do que uma falácia, uma mentira. Hoje vamos desmontar esse apelo à “estabilidade” e à “continuidade” que PS e PSD tanto se esforçam para passar como a única maneira de lhes salvar o empreg…, oh, perdão, o país.

Portugal é uma democracia há 41 anos (possivelmente o único aspecto em que realmente vale a pena apostar na continuidade), tendo atingido o feito a 25 de Abril de 1974, e, desde então, depois de 2 anos de junta de salvação nacional e governos provisórios, eis que se estabelecem em 1976 (até hoje) os governos constitucionais que, à excepção de ano e meio (29 de Agosto de 1978 – 3 de Janeiro de 1980) em que fomos governados por independentes propostos pelo, então presidente, Ramalho Eanes, foram conduzidos ora pelos socialistas do PSD, ora pelos sociais-democratas do PS e, aqui e ali, por um CDS a reboque, sempre que um dos dois partidos não foi capaz de conseguir sozinho uma “maioria estável/absoluta/grande e boa”.

Nestes 39 anos e meio de continuidade mais ou menos estável (parece que volta e meia os próprios pregadores da “estabilidade” e da “continuidade” decidem destabilizar-se uns aos outros, os marotos) Portugal tem seguido, no que diz respeito às contas públicas, um trajecto exemplar, estável e contínuo. Direção? Para baixo.

Segundo os dados divulgados no site da Pordata, o último ano (e único em 50 anos desde 1964 a 2014) em que o estado Português gastou menos do que ganhou foi 1970 e, à excepção desse vergonhoso exemplo, temo-nos mantido num caminho estável e contínuo para a bancarrota.

Fig.1: Equus africanus asinus, um burro, só porque sim.

Em 1975 o estado já gastava o equivalente a mais de 100 milhões de euros do que o que conseguia recolher em receitas, em 1976, a diferença já passava os 200 milhões, em 1984 ultrapassava-se a barreira dos 1000 milhões de euros (quanto é que isto é em escudos?) que o estado gastava, a mais, do que o que tinha para gastar, e em 2002 a balança comercial anual do estado Português acusava um rombo de mais de 5000 milhões de euros. Em 2004, quais campeões (quase fomos, raio dos gregos, sempre à frente) o estado Português quase ultrapassava os 10000 milhões de euros de défice anual, barreira que finalmente venceu em 2009, ano em que atinge a prestigiante marca dos 14057 milhões de euros, marca que, ainda assim é batida em mais de 200 milhões de euros no ano seguinte. Desde então, e porque felizmente houve um governo eleito com o propósito máximo de equilibrar as contas públicas, o estado Português têm vindo a perder, anualmente, só mais de 7000 milhões de euros e o défice encontra-se agora nos 130% do PIB. Estamos safos.

Mas há que reconhecer que nem tudo foi péssimo em 39 anos de continuidade PS/PSD/CDS. Desde 1974 foi construída uma boa rede de ensino, vulgo escola pública, que nos últimos 10 anos vem sendo desmantelada, um bastante razoável serviço nacional de saúde, cada vez mais inacessível aos cidadãos com menos recursos, quilómetros e quilómetros de alcatrão, que permitem ao tio Belmiro e afins, aos deputados e ministros, e aos investidores Chineses e Angolanos uma pista em fantásticas condições e com pouquíssimo trânsito, para esticarem os motores dos seus carros modestos (que também emitem poucos gases poluentes e podem entrar na baixa de Lisboa), tornámo-nos um país turístico, cuja principal mais valia é o baixo preço, produzimos grandes mentes nas artes, no desporto e na ciência, que são das nossas maiores e mais produtivas exportações, e claro, continuamos a ter de maneira muito estável e contínua um óptimo clima e comida fantástica.

Por outro lado, quanto a alternativas políticas, concorrem às eleições legislativas de 2015 (pois, as deste domingo) apenas 20 partidos, pouca diversidade por onde escolher.

Apesar de nem todos os partidos concorrerem em todos os círculos eleitorais, verdade seja dita, nunca houve, como agora, tanta alternativa, para todos os gostos, opiniões e feitios como nas presentes eleições. Desde defensores de marrecos e coxos a quem acha que o Cristiano Ronaldo é o máior há projectos e propostas para defender tudo e mais alguma coisa, inclusive, a espantosa “continuidade” e a também muito popular “estabilidade”.

Em todo o caso, para que se conheça e para que se possa votar com a consciência de que sabe a quem e para quem se está a dar não só dinheiro como o governo do país, deixo-vos uma lista dos partidos que concorrem nestas eleições, os links para os respectivos programas e os nomes dos cabecilhas:
 
AGIR – Coligação PTP-MAS
Líder – Joana Amaral Dias
Programa eleitoral: aqui




Bloco de Esquerda
Líder – Catarina Martins
Programa eleitoral: aqui






CDU – Coligação PCP-PEV
Líder – Jerónimo de Sousa
Programa eleitoral: aqui





Juntos Pelo Povo
Líder – Nuno Moreira
Programa eleitoral: aqui







Livre/Tempo de Avançar
Líder – Rui Tavares
Programa eleitoral: aqui




Nós Cidadãos
Líder – Mendo Castro Henriques
Programa eleitoral: aqui






Partido Cidadania e Democracia Cristã
Líder – Tânia Avillez
Programa eleitoral: aqui




Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses
Líder – Garcia Pereira
Programa eleitoral: aqui




Partido da Terra
Líder – José Manuel Silva Ramos
Programa eleitoral: aqui





Partido Democrático Republicano
Líder – Marinho e Pinto
Programa eleitoral: aqui








Partido Nacional Renovador
Líder – José Pinto-Coelho
Programa eleitoral: aqui







Partido Popular Monárquico
Líder – Gonçalo da Câmara Pereira
Programa eleitoral: aqui







Partido Socialista
Líder – António Costa
Programa eleitoral: aqui




Partido Unido dos Reformados e Pensionistas
Líder – António Mateus Dias
Programa eleitoral: aqui




Pessoas-Animais-Natureza
Líder – André Lourenço e Silva
Programa eleitoral: aqui





Portugal à Frente – Coligação PSD-CSD
Líder – Pedro Passos Coelho
Programa eleitoral: aqui





Divirtam-se e no Domingo não deixem de ir votar por falta de alternativa.



Nuno Soares

2 comentários:

  1. Sim senhor gosto de ver um blog a fazer serviço publico e apelar ao voto fornecendo aquelas que são as ferramentas de divulgação de das ideias partidárias por excelência. Parabéns! O voto informado é mais que um direito, é um dever cívico.

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    1. Obrigado pela opinião JC! Concordo com o que dizes sobre o voto. O grande desafio, parece-me, nesta era de desinformação e poluição de informação em massa, é o de fornecer às pessoas a informação não mastigada para que possam pensar por elas próprias e, mais tarde, informadas, tomar a sua decisão (seja ela qual for). A política (não vou qualificar como "hoje" nem em "Portugal" pois não acho que seja um problema só nosso ou só de agora) vive, infelizmente, baseada na mentira, na manipulação e na ocultação de informação e, justifiquem os líderes dos nossos governos tais práticas como quiserem, enquanto a elas recorrerem não podem ser vistos como honestos, como competentes, nem como defensores dos interesses do país e dos cidadãos. Isso é um grande entrave ao envolvimento das pessoas na política e é um forte estímulo ao desinteresse generalizado, que, como sabemos, beneficia os do costume. Aproximar os dois pólos (o governante e o votante), através da divulgação de informação sobre os programas eleitorais a voto parece-me a maneira de dar-mos o nosso pequeno contributo para que, como dizias, se possa exercer quer o direito, quer o dever cívico do voto informado. ;)

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